quinta-feira, 28 de julho de 2011

Digressão 50 - O destrambelhamento que eu amo.

Um poço de talento ambivalente. Figura que alterna entre a força extrema de pessoa particularmente exótica e uma neurose hiperativa de tudo que lhe falta. Ela tem em si uma lista sem fim de reclamações ácidas e até injustas, mas sabe olhar no outro com seus olhos grandes e preencher de carinhos espaços onde falta cor. Destrambelhada pra caralho, desvairada, personagem feminino de Almodóvar. Amo ela assim.

(Para a outra Lu.)

Digressão 49 - Carinhoso é deixar dormir.

Nos odiávamos feito crianças que brigam sem motivo e só querem mais atenção do pai para si. Naquele tempo ela fazia barulho na porta do meu quarto de tarde porque já era hora de acordar. Hoje, o maior sinal de que crescemos e vamos nos entendendo bem está no carinho implícito em eu desligar a TV de noite e ela fazer seu café e sair sem muito alarde de manhã. As vezes acordo... mas só pra admirá-la sendo cuidadosa.

(Para Lu)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Digressão 48 - Sensatez.

Há força crítica sem julgamentos em seus olhos. Vontade de estar presente sem deixar-se consumir. Sobriedade em teu delírio. Uma magia... controlada.

E eu que nunca imaginei que iria admirar uma mulher sensata...

(Para J)

Digressão 47 - Seria fé?

Seria "fé" o melhor nome a ser dado para essa nossa insistência? Não sei. Talvez ainda não tenham inventado palavra certa para descrever o que é a fé para quem é (e não "faz") Teatro.

(Para Su)

Digressão 46 - Ela me fez crer.

Foram seus olhos e não os meus que constataram em mim, naquele tempo, encantamentos que eu já desconhecia. Ela me ajudou a crer em coisas que eu já não era capaz de fazer. Como pegar um ônibus sem mala feita pra um lugar distante visitar o meu amor quando nascia.

(Ainda C)

Digressão 45 - O filme continua.

Ela faz falta. Mas ainda funcionamos na mesma freqüência de rádio. Tanto que rimos juntos (sozinhos) ainda hoje dos mesmos absurdos. Porque o filme continua.

Digressão 44 - O filme errado.

Ela às vezes ria, antes mesmo que eu dissesse a anedota. Porque compartilhávamos a mesma sensação de ter vindo ao mundo como quem entra na sessão de filme errada: - Po, péra aí? É comédia?

(Para C)

Digressão 43 - Ter o que dizer a ela.

Ultimamente, ela vem me perguntando ao fim dos dias: ”- E então? O que você fez de bom hoje?” No começo eu não dizia nada. Depois passei a inventar histórias. Por fim, passei a fazer coisas boas dos meus dias. Só pra ter o que dizer a ela.

(Para V)

Digressão 42 - Orientação.

Estávamos meio perdidos andando por ruas levemente escorregadias de lama. Descíamos uma ladeira na qual o melhor apoio chamava-se “o braço do outro”, quando ela disse algo como: - É bom você estar aqui. Assim me sinto menos desorientada.

(Ainda para S)

Digressão 41 - Defeitos de ex.

A melhor parte de ser bom amigo de uma antiga ex é poder falar e ouvir sobre defeitos que agora nos são risíveis. Tais defeitos ainda existem. Só que outrora falar deles era um crime inafiançável e a lei prescrevia de 2 a 3 semanas de prisão domiciliar em regime fechado. Pena esta que só era abrandada mediante a trabalhos forçados. Sem direito a beber água.

(Para S.)

Digressão 40 – Mulheres amigas.

Meu melhor amigo é homem. Mas isso deve ter sido um acidente do destino. As mulheres, quando são amigas, tendem a ser mais solidárias. Todas elas têm um quê de mãe ou de amante. Tais fragmentos estão em maior ou menor intensidade aqui e ali. São seres encantados, as mulheres. Porque coragem para um homem é não temer entrar em briga. Coragem feminina, essa sim, muito mais difícil, é não ter medo de demonstrar afeto.

Começarei, portanto, uma série de homenagens a elas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Digressão 39 - O mais importante conselho.

Na vida é preciso duas coisas sempre: a primeira é não esquecer a segunda. A segunda é sempre lembrar da primeira.

sábado, 23 de julho de 2011

Digressão 38 - A simplificação da língua.

A língua vai simplificando-se. Um dia ela ainda vira lingua. Depois simplifica mais e vira linga. Uma hora dessas vira "Lin"... Quem sabe só um "L" ?

No momento mais extremo de simplificação bastará ao homem pôr a língua pra fora.

=P

Digressão 37 - Os pêlos caíram...

De acordo com a nova regra da ortografia, não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, pêlo/pelo...


o.O

Para com isso...

Pelo amor de Deus...

Digressão 36 - Nietzsche II

Estudos ainda mais recentes revelaram que o principal motivo do Bullying sofrido pelo filósofo na época do primário era, na verdade, o seu bigode. De acordo com estudos feitos à partir da exumação do seu corpo, foi possível entender que aquilo não eram pelos e sim um tipo muito peculiar de osso.

A pesquisa concluiu: Nietzsche, quando nasceu, já tinha aquele bigode. Que era na verdade um casco.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Digressão 35 - Nietzsche

É preciso uma vida inteira pra aprender a escrever Nietizche sem olhar na capa do livro. Digo, Nietzche, uops... Nietsss... vou ver aki... ah, sim, claro... Nietzsche! Dizem que o próprio quando ia assinar o nome precisava sacar a certidão de nascimento.

Estudos recentes revelam que toda a revolta do filósofo para com a igreja, a ciência, o Estado, o ser humano, contra a própria filosofia, a música, a arte e as visitas de família e aniversários de criança... toda essa revolta foi gerada na infância... quando os coleguinhas zoavam ele na escola porque ele não sabia escrever o próprio nome direito.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Digressão 34 - Sobre o Cristianismo

"O cristianismo(...)rejeitou apaixonadamente a busca de razões; apontou para o êxito da fé: vocês logo sentirão a vantagem da fé(...)se tornarão bem aventurados. O Estado procede da mesma forma, na realidade, e todo pai de família educa o filho também assim: apenas tome isso por verdade, diz ele, e sentirá o bem que faz. Mas isso significa que a verdade de uma opinião seria demonstrada pela utilidade pessoal que encerra;(...)É como se um réu falasse ao tribunal:meu defensor diz a verdade, pois vejam a consequência do seu discurso: Serei absolvido."

(Friedrich Nietzsche)


Acho que não tenho nada a dizer sobre o Cristianismo que o próprio bigodudo e irritadinho Nietzsche já não tenha dito...

Digressão 33 - A idade de Cristo.

33 é a idade de Cristo. E daí ?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Digressão 32 – A idade vindoura.

Existe algo que se sabe aos 32, ela me disse. Como se fosse outra solidária náufraga... emitindo bilhetes de advertência em garrafas à deriva no mar perigoso do tempo.



(Dedicado a uma amiga nova, e Gentil)

Digressão 31 – Autoconhecimento.

Eu me conheço muito bem. E não confio em mim. Não sou flor que me cheire.

Digressão 30 – Adeus. Penumbra. Anonimato.

Eu saio de cena sem aplausos. E vou pra casa do jeito que gosto de ir sempre ao fim dos espetáculos que faço... à francesa... desaparecendo na penumbra da coxia... como um personagem que volta pro papel, volto em silêncio pro meu lugar de anonimato.

Digressão 29 – E aos 29 com o retorno de saturno... amigos.

Os amigos são anjos de carne e osso. No mais das vezes são seres não alados, porém assexuados (nem sempre) e capazes de nos olhar com aquela candura que nos faz crer novamente nisso... no nem bom nem mau que somos.

Digressão 28 - Adeus. Santidade. E o implícito.

Me despeço com uma dor muito aguda e muito nobre. E uma força só conhecida pelos santos nos momentos de pior martírio e iluminação. E também com uma tolice (por que não?) muito humana contida num implícito "quem sabe um dia ?"

Digressão 27 – Ligação da ex quando tava bêbada.

Quando ela ligou, disse coisas absurdas, tristes, decadentes, verdadeiramente assustadoras. Mas ali, alguma coisa em mim sentiu-se bem. Não pensem (pseudo-psicólogos de plantão), que eu senti prazer na dor dela. Não foi isso. Eu só voltei a sentir o seu afago... travestido de dores e ódios. Projéteis disparados contra mim, como carícias...

Digressão 26 – O humor é uma benção maldita.

O humor é uma benção. Já chorei de rir. Já ri de tanto chorar. (No fim... ficou tudo a mesma merda. Mas valeu.)

Digressão 25 - Ufa!

Agora que passou o temido 24, podemos voltar a falar sério... sobre o que mesmo?

Digressão 24 - Loteria (Hmmm... sei.)

No colégio, eu já fui o número 24 da chamada. Duas vezes.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Digressão 23 – O silêncio. A música.

Silêncio também é música. Tudo bem. Eu diria mais.
Eu só suporto ou gosto de músicas que possuem algum nível bom de silêncio.

Vocês já podem imaginar a infinidade de lixo que se encontra fora dessa lista.

Digressão 22 – A hora boa.

A hora boa é quando o mundo dorme. Sou um insone inveterado porque preciso esperar da natureza o que a educação humana poderia ter resolvido: um pouco de silêncio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Digressão 21 – Saudade e cura.

Saudade não se cura. Se esquece temporariamente, progressivamente, a cada vez por um período de tempo maior. Como uma pessoa amputada que vai aprendendo a tocar sua vida sem que esta seja um simples pensar no que lhe falta. E ainda assim, ela lembra. De quando em quando.

Digressão 20 – Saudade é um tipo de rinite.

Quem tem rinite entende que um espirro não é nenhum tormento se comparado à vontade constante de espirrar. As saudades mais intensas produzem um inconveniente semelhante em relação ao choro.

Digressão 19 – Saudade e insensatez.

Quanto ouço a música Insensatez, não importa a língua, nem o intérprete, tenho vontade de pedir perdão a alguém. Mas aquele perdão impossível dos dias chuvosos em comédias românticas.

Digressão 18 – Saudade e Física.

O que preenche isso?
Ter saudade nesse universo é ter um buraco negro dentro do peito. Ele suga toda matéria em volta, toda luz, toda gravidade, todo tempo, tudo. As coisas que entram ali não vão para lugar nenhum. Ficam estagnadas eternamente no micro-cosmo de nosso corpo físico-quântico.

Digressão 17 – Saudade é osso.

Saudade quanto mais intensa, mais parece com osso que dói no frio. Sabe o esterno? Então. É esse o osso.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Digressão 16 – Saudade e Mario Quintana.

Dizia ele que “Se o poeta falar num gato, numa flor (...) Se não disser simplesmente nada e disser simplesmente tralalá... Que importa? Todos os poemas são de amor!”. Permita-me acrescentar Quintana. Todos os poemas de amor falam de saudade.

Digressão 15 – Minha teologia.

Meu deus (minúsculo sim) tem nome de incerteza. Meu espírito santo é a inquietação. Meus anjos são feitos de acaso. Meu paraíso é um instante. Meu diabo quer me seduzir a não provar o fruto, a desistir. Meu inferno... é essa minha teologia.

Digressão 14 – A esperança fabulosa.

Duas de minhas alunas mirins de teatro inventaram uma cena onde um mendigo trocava o pão que lhe sobrara por uma semente de macieira. A árvore crescera e a solução da fome estava dada de forma definitiva. Elas ignoraram com beleza indescritível o tempo, as pragas, os agrotóxicos e, em última análise, a necessidade de uma dieta rica e balanceada bem como as constipações que poderiam advir de uma alimentação feita exclusivamente de maçã. Coitado de mim que sei de tudo isso só porque cresci.

domingo, 3 de julho de 2011

Digressão 13 – O alívio IV (por fim... ou, por hora...)

Esse rearranjo é temporário. Mas, por hora, estamos salvos.

Digressão 12 – Um alívio III. (Quadro a quadro)

1 – Arremesse na parede para aliviar a fúria.

2 – Contemple o ambiente como ficou e se espelhe nele.

3 – Junte os cacos e se rearranje dentro de si.

Digressão 11 – Um alívio II.

Arremessar com violência aquele objeto no qual topamos alivia. O que gera mais irritação é quando o negócio é caro e não dá pra comprar outro. Portanto, não o arremessamos.

Digressão 10 – Um alívio.

Soco na parede não resolve. Mas que alívio...

Digressão 9 – Reminiscências. Amor e território II.

Peguei aquelas nossas fotos da estante e joguei tudo pra dentro de uma gaveta. De cabeça pra baixo. Estamos agora lá dentro. Gritando para mim.

Digressão 8 – Reminiscências. Amor e território.

Te senti por muitas noites ao meu lado. E por um bom tempo continuei dormindo no meu lado da cama, respeitando o espaço que era teu. Após duas semanas me forcei a ocupar o centro. Desculpa te espremer... você ainda está ali.

Digressão 7 - Perdão. Espiritualidade. Ânus.

O perdão é divino. Mas também anatômico (portanto, enfia sabe onde...).

Digressão 6 - Ressaca. Café. Espiritualidade.

Só o cafezinho salva (Jesus... nem sempre). Agora meu café olha pra mim e diz: - Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Poutz... será que to bêbado ainda?

Digressão 5 – Ressaca. Espiritualidade.

O bom da ressaca é essa sensação de que estamos melhorando (Claro, porra! Se ta tudo péssimo, a tendência é melhorar).

Digressão 4 - As flores de um amar perdidamente.

Naquele tempo as flores estavam aí pra adornarem a mesa do café. E quando secas, serviam de marca-texto para os teus livros mais importantes.

Digressão 3 – As flores do amor perdido.

As flores do amor perdido são aquelas secas. As flores que não estão à flor da pele. São flores de Baudelaire. As flores do mal.

Digressão 2 – Jason e Fred Gruguer encontram o verdadeiro amor.

Os dias passam lentos. A recordação me persegue a passos largos. Pronto. Me atingiu. Ta aqui. E rasgou minha carne. Só me deu tempo de dizer aquela frase que nos filmes trash (de terror barato) nunca se completa antes que o personagem morra... aquela frase que eles dizem quando já é tarde e a aberração subjuga-os com garras ou facões:

“-What the fuck is... aaaarrggg”

Digressão 1 – Amor em fuga.

A lembrança daquela falta chega sempre. Mas principalmente quando sentamos para descansar. Então andamos apressados por aí com medo de que essa aura, esse fantasma da lembrança nos alcance. E o fantasma nos alcançará. Como naqueles filmes de terror trash em que a aberração da qual se foge sempre descobre o paradeiro de sua caça.